segunda-feira, 7 de março de 2011

A personagem frenética de Veríssimo apronta mais uma vez unindo Carnaval e Política. Será que é uma boa mistura?  confira na satírica crônica dessa semana:


SOCIALITE SOCIALISTA

MAIS CARTA DA DORINHA

A frenética e esfuziante dama que vive nos bastidores da política revela suas intenções e recordações desta época de teléco-téco e ziriguiduns

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se recorda, acidentou-se no último Carnaval, quando desfilou na Sapucaí como madrinha da bateria de uma escola. Ela não conseguiu acompanhar o ritmo da escola e foi atropelada pela bateria. Além dos aranhões e da perda de miçangas sofreu o que ela chama de “escoriações morais”, pois foi bem na frente do camarote da Brahma.
imagem:  Forner. O VALE
Este ano Dorinha desfilará outra vez como madrinha da bateria, mas de patinete. Como todos os anos, ela preparou-se para o Carnaval internando-se no Pitanguy durante quatro meses, só saindo de lá com a garantia de que nada que foi esticado se soltaria na avenida, por mais que ela rebolasse.
Dorinha também diz que... Mas deixemos que ela mesmo nos conte. Sua carta veio em papel roxo, escrita com tinta carmim e cheirando a Mange Moi, o perfume que tira o sono do papa. “Caríssimo! Beijíssimos! Sim, estarei na avenida de novo, recordando meus velhos triunfos. Você se lembra da vez em que desfilei completamente nua com apenas um retratinho do Fernando Henrique como tapa-sexo, para protestar contra a política econômica do seu governo? Como eu ia saber que a política econômi-

PREPARO Dorinha vai desfilar depois de obter a garantia de que nada que mandou esticar vai cair na avenida    

ca do Lula seria igual a do Fernando Henrique, só que de barba? Pensei em repetir a fantasia trocando o retratinho mas um tapa-sexo barbudo poderia ser mal interpretado.
Minhas manifestações políticas não foram em vão, no entanto. Até hoje tenho certeza que aquela minha alegoria sobre a necessidade de renovação na política, usando a renovação dos meus seios como exemplo, foi responsável pelo afastamento do cenário nacional de figuras como José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho, de quem nunca mais se ouviu falar, se é que não estou mal informada.
Minhas companheiras do grupo de pressão Socialites Socialistas, que luta pela instalação no Brasil do Socialismo no seu estágio mais avançado, que é o fim, - Tatiana (“Tati”) Bitati, Betania (“Be”) Steira, Cristina (“Kika”) Tástrofe e as outras – formarão uma ala toda de tailleur e carregando moto-serras, simbolizando a Dilma e os cortes no orçamento. Não pretendo ser abalroada de novo pela bateria mas se acontecer  já combinei com o Gustavão, que toca surdo de repique, para me salvar. Estou chegando naquela idade em que o repique começa a ser um conceito interessante. Ainda se diz ziriguidum? Beijão  da tua Dorinha”.      



VERÍSSIMO, Luis Fernando. MAIS CARTA DA DORINHA. Jornal O Vale. São José dos Campos. 6 de março de 2011.

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