quarta-feira, 9 de março de 2011

Palavras Cruzadas:
Depois da Depressão... 


Chega de farra...


VERÍSSIMO,Luis Fernando. As Cobras em SE DEUS EXISTE QUE EU SEJA ATINGIDO POR UM RAIO

segunda-feira, 7 de março de 2011

A personagem frenética de Veríssimo apronta mais uma vez unindo Carnaval e Política. Será que é uma boa mistura?  confira na satírica crônica dessa semana:


SOCIALITE SOCIALISTA

MAIS CARTA DA DORINHA

A frenética e esfuziante dama que vive nos bastidores da política revela suas intenções e recordações desta época de teléco-téco e ziriguiduns

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se recorda, acidentou-se no último Carnaval, quando desfilou na Sapucaí como madrinha da bateria de uma escola. Ela não conseguiu acompanhar o ritmo da escola e foi atropelada pela bateria. Além dos aranhões e da perda de miçangas sofreu o que ela chama de “escoriações morais”, pois foi bem na frente do camarote da Brahma.
imagem:  Forner. O VALE
Este ano Dorinha desfilará outra vez como madrinha da bateria, mas de patinete. Como todos os anos, ela preparou-se para o Carnaval internando-se no Pitanguy durante quatro meses, só saindo de lá com a garantia de que nada que foi esticado se soltaria na avenida, por mais que ela rebolasse.
Dorinha também diz que... Mas deixemos que ela mesmo nos conte. Sua carta veio em papel roxo, escrita com tinta carmim e cheirando a Mange Moi, o perfume que tira o sono do papa. “Caríssimo! Beijíssimos! Sim, estarei na avenida de novo, recordando meus velhos triunfos. Você se lembra da vez em que desfilei completamente nua com apenas um retratinho do Fernando Henrique como tapa-sexo, para protestar contra a política econômica do seu governo? Como eu ia saber que a política econômi-

PREPARO Dorinha vai desfilar depois de obter a garantia de que nada que mandou esticar vai cair na avenida    

ca do Lula seria igual a do Fernando Henrique, só que de barba? Pensei em repetir a fantasia trocando o retratinho mas um tapa-sexo barbudo poderia ser mal interpretado.
Minhas manifestações políticas não foram em vão, no entanto. Até hoje tenho certeza que aquela minha alegoria sobre a necessidade de renovação na política, usando a renovação dos meus seios como exemplo, foi responsável pelo afastamento do cenário nacional de figuras como José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho, de quem nunca mais se ouviu falar, se é que não estou mal informada.
Minhas companheiras do grupo de pressão Socialites Socialistas, que luta pela instalação no Brasil do Socialismo no seu estágio mais avançado, que é o fim, - Tatiana (“Tati”) Bitati, Betania (“Be”) Steira, Cristina (“Kika”) Tástrofe e as outras – formarão uma ala toda de tailleur e carregando moto-serras, simbolizando a Dilma e os cortes no orçamento. Não pretendo ser abalroada de novo pela bateria mas se acontecer  já combinei com o Gustavão, que toca surdo de repique, para me salvar. Estou chegando naquela idade em que o repique começa a ser um conceito interessante. Ainda se diz ziriguidum? Beijão  da tua Dorinha”.      



VERÍSSIMO, Luis Fernando. MAIS CARTA DA DORINHA. Jornal O Vale. São José dos Campos. 6 de março de 2011.

domingo, 6 de março de 2011


E falando em Política...

Realidade do século


Esse é o Brasil que eu amo. O ano só começa depois do Carnaval!

terça-feira, 1 de março de 2011





Quem foi Scliar (1937-2011)

foi um escritor brasileiro, nascido em Porto Alegre, 23 de março de 1937. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil.

Foi o sétimo ocupante da cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 31 de julho de 2003, na sucessão de Geraldo França de Lima, e recebido em 22 de outubro de 2003 pelo acadêmico Carlos Nejar.
Scliar morreu por volta da 1h do dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino.
informações disponíveis  em wikipedia.org

Moacyr Scliar era um grande amigo de Veríssimo. O que  rendeu sua próxima crônica como tributo ao mesmo:



LITERATURA

UM TRIBUTO A MOACYR


A obra deste escritor, que não bebia e também não gostava de peixe, nunca foi panfletária, mas sim encharcada de humanismo e compaixão

Eu brincava com o Moacyr Scliar e dizia que ele era a vergonha da classe literária: um escritor que não bebia. Ou, pior, só bebia Malzibier. Ele também tinha horror a peixe, contava com muito humor seu martírio diante de sushis e sachimis quando visitou o Japão. Viajamos juntos algumas vezes mas ele me ganhava em matéria de trotear pelo globo.
 Certa vez nos encontramos em Carlos Barbosa, no interior do Rio Grande do Sul, mas foi um encontro muito rápido, ele estava indo dali a minutos para Tocantins! O Moacyr vivia assim, de Calos Barbosa para Tocantins com escalas em Nova York e Paris, sem perder os chás da Academia nas quintas. Eu invejava seu talento e sua estampa de príncipe russo mas invejava, acima de tudo, suas milhas acumuladas.
Era uma pessoa extremamente generosa e solidária. Quando um leitor me chamou de anti-semita no jornal o primeiro telefonema que recebi foi do Moacyr dizendo para não dar bola, ele mesmo já tinha sido chamado de anti-semita várias vezes pela sua posição no conflito de Israel com os palestinos.
FAVORITOS 
‘A guerra do Bom Fim’,
‘O Exército de Um Homem Só’ 
e ‘Os Voluntários’ são destacados 
por Veríssimo

imagem:  Forner. O VALE.
Sua preocupação com a saúde pública e com a questão social vinha dos seus tempos de estudante de medicina e se refletiu desde o começo na sua obra literária. Que nunca foi panfletária mas sim encharcada de humanismo e compaixão – mesmo quando tratava de personagens em guerra com o mundo.

Cômico x trágico. Nenhum outro escritor brasileiro que me ocorra dominou, como o Moacyr aquela estréia faixa da imaginação entre o cômico e o trágico também freqüentada por Kafka, Vonegut alguns poucos outros. E ele foi o único praticante, no Brasil, do melhor humor judaico, com suas narrativas urbanas e modernas que nunca deixavam de evocar arquétipos e mitos antigos, como se dispensadas por um xamã tribal num bar do Bonfim, o bairro judeu de Porto Alegre.
Sua obra foi extensa, mas meus Scliars favoritos são “A Guerra no Bonfim”,  “O Exército de um homem só” e “Os voluntários”, talvez por serem dos seus primeiros livros, os que revelaram sua originalidade. Nos enchíamos de orgulho, um pouco por bairrismo gaúcho e muito pela nossa velha amizade, sempre que em qualquer livraria da Europa ou dos Estados Unidos víamos os livros traduzidos do Moacyr numa prateleira. Os livros, pelo menos, vão continuar a andar pelo mundo.







                                                                   VERÍSSIMO, Luis Fernando.UM TRIBUTO A MOACYR. O Vale.São José dos Campos. 3 de março de 2011.