terça-feira, 1 de março de 2011





Quem foi Scliar (1937-2011)

foi um escritor brasileiro, nascido em Porto Alegre, 23 de março de 1937. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de crônicas, contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil.

Foi o sétimo ocupante da cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. Foi eleito em 31 de julho de 2003, na sucessão de Geraldo França de Lima, e recebido em 22 de outubro de 2003 pelo acadêmico Carlos Nejar.
Scliar morreu por volta da 1h do dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino.
informações disponíveis  em wikipedia.org

Moacyr Scliar era um grande amigo de Veríssimo. O que  rendeu sua próxima crônica como tributo ao mesmo:



LITERATURA

UM TRIBUTO A MOACYR


A obra deste escritor, que não bebia e também não gostava de peixe, nunca foi panfletária, mas sim encharcada de humanismo e compaixão

Eu brincava com o Moacyr Scliar e dizia que ele era a vergonha da classe literária: um escritor que não bebia. Ou, pior, só bebia Malzibier. Ele também tinha horror a peixe, contava com muito humor seu martírio diante de sushis e sachimis quando visitou o Japão. Viajamos juntos algumas vezes mas ele me ganhava em matéria de trotear pelo globo.
 Certa vez nos encontramos em Carlos Barbosa, no interior do Rio Grande do Sul, mas foi um encontro muito rápido, ele estava indo dali a minutos para Tocantins! O Moacyr vivia assim, de Calos Barbosa para Tocantins com escalas em Nova York e Paris, sem perder os chás da Academia nas quintas. Eu invejava seu talento e sua estampa de príncipe russo mas invejava, acima de tudo, suas milhas acumuladas.
Era uma pessoa extremamente generosa e solidária. Quando um leitor me chamou de anti-semita no jornal o primeiro telefonema que recebi foi do Moacyr dizendo para não dar bola, ele mesmo já tinha sido chamado de anti-semita várias vezes pela sua posição no conflito de Israel com os palestinos.
FAVORITOS 
‘A guerra do Bom Fim’,
‘O Exército de Um Homem Só’ 
e ‘Os Voluntários’ são destacados 
por Veríssimo

imagem:  Forner. O VALE.
Sua preocupação com a saúde pública e com a questão social vinha dos seus tempos de estudante de medicina e se refletiu desde o começo na sua obra literária. Que nunca foi panfletária mas sim encharcada de humanismo e compaixão – mesmo quando tratava de personagens em guerra com o mundo.

Cômico x trágico. Nenhum outro escritor brasileiro que me ocorra dominou, como o Moacyr aquela estréia faixa da imaginação entre o cômico e o trágico também freqüentada por Kafka, Vonegut alguns poucos outros. E ele foi o único praticante, no Brasil, do melhor humor judaico, com suas narrativas urbanas e modernas que nunca deixavam de evocar arquétipos e mitos antigos, como se dispensadas por um xamã tribal num bar do Bonfim, o bairro judeu de Porto Alegre.
Sua obra foi extensa, mas meus Scliars favoritos são “A Guerra no Bonfim”,  “O Exército de um homem só” e “Os voluntários”, talvez por serem dos seus primeiros livros, os que revelaram sua originalidade. Nos enchíamos de orgulho, um pouco por bairrismo gaúcho e muito pela nossa velha amizade, sempre que em qualquer livraria da Europa ou dos Estados Unidos víamos os livros traduzidos do Moacyr numa prateleira. Os livros, pelo menos, vão continuar a andar pelo mundo.







                                                                   VERÍSSIMO, Luis Fernando.UM TRIBUTO A MOACYR. O Vale.São José dos Campos. 3 de março de 2011.                   


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